Mauriceia



Hoje cedo, na fila para entrar no banco, reconheci as sobrancelhas da Mauriceia por cima da máscara que ocultava o sorriso dela. Mauriceia foi minha amiga de pré-escola, quando nossas mães trabalhavam no Palácio dos Bandeirantes. Tinha uma creche lá, e eu e ela passamos a infância no jardim do governador. Andamos de helicóptero com Mário Covas e costumávamos enganar os meninos com contas de matemática cujo resultado não sabíamos, mas inventávamos.
Ela estava de cabelo colorido, saia colorida, máscara colorida. Era ela. Eu sabia.
Falei Mauriceia. Ela falou Fernanda Elisa. Assim mesmo: lembrando inclusive meu segundo nome.
Conversamos antes de chegar nossa vez; e ela resolveu me esperar na porta do banco.
Decidi contar para ela um segredo que carrego ainda no peito: eu sempre quisera ter nome dela, pois quando pequena achava que o comprimento da palavra Mauriceia era o segredo do seu corpo ser alongado. Pra mim, era o nome dela, Mauriceia, que prolongava seus braços, pernas e sobrancelha.
Ela sorriu com os olhos de surpresa e contentamento. Disse que eu tinha feito a fila do banco ficar mais curta.
Ainda antes de nos despedirmos, ela me disse que havia ficado tão contente que quase errara a senha do seu cartão. E foi ai que eu a surpreendi novamente com outra confissão: eu jamais errei as minhas senhas, principalmente as de e-mail, pois as que precisam de letras, todas até hoje são o nome dela.

 
(Claro que eu mudei as senhas antes de escrever esse texto).

Comentários

Postagens mais visitadas