Melina
(para o meu filho com mel, canoa e vento)
Melina era uma menina que colecionava gotas de lágrimas
Para montar seu próprio oceano e navegar por ai
Ela achava, com toda graça e razão,
Que as pessoas precisavam chorar para chegar aos lugares
A que não chegariam com risos de ilusão
Quando via criança espernear
Menino mimado abrir o berreiro
Moça bonita abandonada por moço pouco afeiçoado a pisar descalço na grama
Melina corria com as mãos fechadas em forma de concha
E dizia: "Chora aqui!"
De gotinha em gotinha,
Navegou mares de sofrimento de muita gente
E descobriu que a Terra era realmente redonda
Quando voltou a se encontrar com a primeira lágrima
Da primeira criança que viu chorar,
Um menino que tinha medo de escuro
E para quem Melina deu dois presentes:
1) um dicionário do linguajar dos sonhos
2) uma casinha sem teto para ele dormir estrelado
Nunca mais o menino chorou
Então Melina descobriu que a vida era isso:
Uma lágrima que pode nunca mais ser lágrima
Se a gente souber olhar o céu
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