Carolina

Ao meu filho, com beijo e vento

Era uma menina que não olhava pela janela,
que dançava no riacho e não comia passarinho
Atravessava a porta e partia pra vida,
sem olhar se o pingo da chuva caia no vidro

Tinha sempre certeza de sol
e corria como água de piscina de plástico que esvazia
Um dia ela sorriu assim um sorriso de ventania,
chegou bem perto de uma nuvem e tossiu um trovão:
Brrrr-buuuuum!

Ninguém da vila acreditou na Carolina.
E a menina de chão ficou vazia
Passou a voar no luar e a engolir cortinas
Queria que as pessoas vissem a fumaça do trem sem coisas pra tirar da frente

Coisa melhor do que janela sem cortina só o soluço da Carolina
Em cada gluft! era um pernilongo que morria
de medão que tinha da sua alforria

Era uma menina livre
que não precisava de janela, nem tramela, nem retratos
pra ler os segredos das paredes, das pessoas, do mato

Era uma menina livre
que não precisava mentir que voava
Voava mesmo!



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