Crescer dói

Demorei muito tempo para me dar conta da veracidade inquestionável desse clichê: "crescer dói". E dói pra caramba! Meu filho é a prova máxima do veredito: chorou de cólicas até o terceiro mês e, só depois dessas pontadas necessárias na vida de um bebê, teve seus órgãos preparados para digerir os alimentos e, talvez, as  verdades da vida. Passou agora três dias com febre porque os dentinhos resolveram apontar, pro céu da boca e do mundo. Chorou, de madrugada, de dor; e eu, de dor no peito de dó da dor dele. Dor de mãe, sabe? Pois mãe que é mãe, minha gente, pare um filho toda vez que ele desce do safá decidido a fazer qualquer coisa sozinho.

Ai aproveitei esse avalanche de dores dele para refletir sobre as minhas e me lembrei do quão desesperadoras foram as aflições que tive na vida e, junto delas, quão grandioso foi o meu salto no picadeiro da vida depois de padecê-las.

O primeiro dia na escola, o primeiro pirulito de que mais gostava caído no chão e pisado pelo menino mais boboca da escola até o dia em que um ex (muito ex mesmo) resolveu acabar tudo entre nós no dia do meu aniversário... Tudo isso e tudo o mais no meio disso tornaram-me essa incrível e grande mulher de um metro e cinquenta e oito centímetros de altura e muitos outros de olhar. Reconheço meninos bobocas que paqueram meninas cujo pirulito jogam no chão a anos luz da Terra, onde quer que eles se escondam e se disfarcem de estrelas. Aprendi, com as dores de amor, por exemplo, a distinguir quem brilha por uma noite no céu dos meus sonhos malucos de novela das oito e quem acende o céu para que eu amanheça descabelada e linda.

Depois de sofrer bocados e mais bocados por amizades incapazes de perdoarem e muito capazes de cometerem os mesmos erros que eu cometi, identifico amizades no primeiro "oi, tudo bem, meu nome é Fernanda, muito prazer".  Com a dor do amigo que se foi, foi também o meu desajeitado jeito de deixar as pessoas entrarem para além dos meus olhos castanhos. Agora, são eles, os meus olhos, com ajuda da minha alma, que me dizem quem vem pra dentro do infinito de perguntas que me faço. Afinal, quando se é indefinida, precisa-se definir ao menos amizades capazes de entenderem de pontos de interrogação.

Diferenciar momentos de amores, amizades de cerveja, panacas de homens como meu pai, pão doce de pão-doce-de-coco... são aprendizados que a gente só apanha depois de muito apanhar, sabe? Afinal, minha gente, a gente passa boa parte da vida caminhando de joelho sobre o milharal para depois, de tanto ver milho, saber fazer curau! E comer, devagarinho, enquanto o coelho se estrepa de pressa e ausência de paisagens.

Aliás, sempre preferi as tartarugas nas fábulas. Além de saberem perder, sabem aproveitar o caminho. Lento: de dores e horizontes.

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