A borboleta azul e a professora medrosa

O dia estava lindo, feito pros amores que dão certo e para as borboletas de mil cores que Marília pôs nos olhos de Bocage, sabe? Aquele baita solzão de fazer sorrir a criançada toda do colégio e de fazer o Vitor, do sétimo ano, ter de colar os olhos na lousa a cada vez que uma palavra do texto se tornava mais clara e invisível perto da exibição do sol. 

Era quarta-feira, e a professora estava feliz por ler, junto aos alunos, Drummond e Meireles contarem como é que tinha sido mesmo a passagem do cometa Halley pela Terra em 1910. Uau! Tinha sido um alarido de fumaça de trem ad aeternum. Um medaço de que o mundo fosse acabar assim, num plim, ou bum, do cometa no chão.

A professora lia e ria com a meninada que lia e ria com a professora do medo que as pessoas do passado tinham do Halleyzinho, tão inofensivo, coitado, como uma noiva de véu. E ria bastante a professora, viu. Lia e ria, até Mariana, aluna espavorida da sala, gritar que tinha visto um bicho, meio cometa, meio bicho, adentrar a sala voando pela janela:

- Quê que vc disse aí, Mariana? - mais espavorida ainda gritou a professora.
- Disse que vi um cometa... quer dizer, um bicho assiiiiiiim óh, do tamanho dum cometa, voar praí perto da sua mesa, professora. Eu vi sim, Matheus, juro que vi! Se eu tô falando que vi, Rodrigo, é porque eu vi! Olha ele ali óh...

E tinha visto mesmo. Uma baita duma borboleta azul no bolso do meu jaleco!  UMA BORBOLETA AZUL NO NO NO NO BO...BO...BOL...SO DO MEU JALECO!?

- Sim, professora, uma borboleta azul no bolso do seu jaleco! Olha! Olha! Olha!

Estava armada a confusão! A borboleta voava pra lá, pra cá, enquanto a professora gritava ui, ai, ui pro colégio todo ouvir. As meninas em cima da mesa, debaixo da mesa, e os meninos também. Cadernos pro ar. Livros ao chão. De vez em quando ainda se ouvia, quando a inofensiva borboleta Halley se aproximava da professora, um aluno gritar:

- Salvem a professora! Salvem a professora!

E foi só quando a borboleta se pôs a descansar, num cantinho calmo da sala, que a professora teve fôlego para refletir com altivez de mestra o que ela faria até então. E foi lá pra fora da sala chamar o professor de educação física para pôr fim àquele medaço de que a borboleta pudesse acabar assim, num plim, com a coragem do mundo. Coragem que a professora viu que não tinha não.

- Bota pra voar a borboleta!

Botou.

Mais tarde em sua casa a professora lia as redações feitas pelos alunos. Em cada título uma borboleta; em cada frase um medão danado; em todas elas a presença da professora e a volta do cometa Halley.  Agora disfarçado de azul, de delicadeza, de vai-e-vem... Mas ainda aterrorizante. Para Drummond. E para mim.

Comentários

Lillyan Melo. disse…
Olá! Estava dando uma olhadinha nos blogs aqui, e, por sorte, tive o prazer de ler o seu. Você escreve muito bem, eu adorei esse último post, me fez ver os acontecimentos a minha frente. Gostaria de dar-lhes os parabens! Quando puder, dê uma visita no meu blog também, um abraço.
http://brisaquepensa.blogspot.com.br/
Srtª Nunes. disse…
Muito lindo o texto Fêssora! hahaha
(:
Srtª Nunes. disse…
Curti demais o texto Fêssora! (:
Srtª Nunes. disse…
Curti o txto Fêssora! (:

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