Gota de fazer oceano

O que brota da terra depois de um pranto de mulher senão um oceano? Cada gota se faz semente de um mar que cresce feito árvore e alvorece feito dias duma semana. Meses e anos então viram mares nascidos de uma lágrima chorada num dia frio. E ai eu me pergunto por que não plantei a dor necessária antes? Por que não deixei chorar o que queria ser água antes? Por que fui deixando as secas da alma de alguns dominarem o meu sertão chuvoso? E ai eu não respondo nenhuma das três perguntas porque tenho medo de soletrar respostas para mim mesma. Tenho medo de me ouvir dizendo verdades pra mim, porque eu não aprendi a desconfiar de um tombo. Sei que quando caio não tem sombra me seguindo, não tem bandido querendo roubar meu presente, nem mulher querendo ver meus joelhos sujos de experiência. O que tem nos meus tombos é um olhar mais levantado que humilde, mais certo de estar certo do que certo. Então o jeito é descer o olhar sobre o chão de concreto que é a vida e chorar sem medo, sem música, sem ecos da minha voz.
Quem sabe num dia dum ano futuro as minhas gotas possam ser pistas a conduzir alguém para um mar azul.
Quem sabe...

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