No labirinto da vida

Lá na saída do labirinto da vida, eu devo estar tomando chá. Devo estar me aguardando porque me demoro em partir das esquinas da minha vida. Nessas esquinas em que a gente costuma encontrar alguém conhecido, estou em todas elas. Em todas as esquinas do labirinto. Estou reencontrando um grande amor que foi capaz de me abrir os lábios por mais tempo que um filhote de bicho dentro daqueles vidros das lojas que judiam de bichos. Estou reencontrando um amigo e seus conselhos. Estou ouvindo um velho me dizer que sou eu quem envelheço e que ele não bebe. Estou encostada nos postes e me confundindo com eles. Não consigo partir de mim. Eu me demoro.
Já devo ter perdido o tempo de quanto tempo demoro para sair dos lados que escolhi seguir por terem me dado risadas e um tanto de choro. Eu me demoro. Não me pareço cansar de transpor paredes e pular feito menina do mato cheia de malandragem em qualquer brincadeira. Eu quero chegar rápido e me demoro. Eu tento pular o muro e caio no chão e me sujo e bato o pé e digo que vou pular mais uma vez e caio mais vezes do que pulei. Então eu desespero. Eu choro. Eu nego que estou num labirinto. Eu fujo. Eu volto. Olho pro muro de novo. Pulo. Caio. Sento no chão. Pego da areia que arranhou meu joelho e fico brincando de acreditar que um dia eu ficarei do outro lado do muro para sempre.
E enquanto refaço montes de areia no chão do labirinto, ainda me espero chegar lá da porta de saída do lugar em que me perco.

Eu sou alguém que toma chá no labirinto da vida enquanto se perde nas esquinas que já me fizeram sorrir. É isso.

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