Sobre o amor - parte 2

Minha saga em busca da definição do amor continua. Encontrei mais um pouco aqui:


"Fermina Daza tinha aguentado com má vontade o jubiloso amanhecer do marido. Agarrava-se aos últimos fios de sono para não enfrentar o fatalismo de uma nova manhã de presságios sinistros, enquanto ele despertava com a inocência de um recém-nascido: cada novo dia era um dia a mais que se ganhava. Ouvia-o despertar com os galos, e seu primeiro sinal de vida era uma tosse sem som nem tom que parecia de propósito para que ela também despertasse. Ouvia-o resmungar, só para inquietá-la, enquanto tateava em busca dos chinelos que deviam estar junto da cama. Ouvi-o buscar caminho até o banheiro aos tropeços pela escuridão. Ao cabo de uma hora no escritório, quando ele havia dormido de novo, ouvia-o voltar para se vestir, ainda sem acender a luz. Certa vez, num jogo de salão, lhe perguntaram como se definia a si mesmo, e ele tinha dito: 'Sou um homem que se veste no escuro.' Ela o ouvia sabendo muito bem que nenhum daqueles ruídos era indispensável, assim como ele os fazia de propósito fingindo o contrário, assim como ela estava acordada fingindo que não. Os motivos dele eram certos: nunca precisava tanto dela, viva e lúcida, como nesses momentos de confusão." ("O amor nos tempos do cólera", Gabriel García Márquez)

Comentários

Felipe Rossi disse…
eu ainda não entendo o amor...
mas valeu a pena ler :)

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