Sobre o dia em que ela se pôs a dançar

Alguém poderia prever que depois de tantos anos de sonhos em frente ao espelho, somente com vinte e quatro anos ela se poria a aprender a dançar? Que ela colocaria os pés no chão sem tanto peso, sem tanta esperança, mas com uma certeza plácida e desenvoltura para nele rabiscar o que ela desajeita num papel? Ninguém poderia esperar tanto tempo para dançar, mas ela esperou. Talvez uma dorzinha tenha ajudado a esperança a nascer dentro dela e as sapatilhas tenham cabido no espaço do seu sonho. Talvez não seja talvez nenhum, e sim, verdadeiramente, seja o amor a qualquer leveza que voando num guarda-chuva se aproximou de sua janela no dia em que ela observou melhor a vida. Ele teve de ficar em silêncio para não acordá-la e ela também para que ele não descobrisse que ela não dormia. Quando o dia se pôs a nascer, o amor já a tinha tocado e ela desde então despertou para ele - que agora está no espetáculo de ver tudo pequenininho todos os dias. Começou pelos dedos dos pés e mãos, até que deixou a dança penetrar, devagarinho, a sua alma.

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