Três dicas de leitura para quem não sofre
Agosto chegou, após um mês de julho que me cobriu de leituras. Foram três livros bons pra cacete que me fizeram ter epifânias e dores no corpo - de tão fortes e de tão bons também.
E para dividir esses dissabores fodasticamente bem escritos, vou sugeri-los como leitura para quem não acabou de sair de um relacionamento, para quem não foi demitido, para quem não tem uma desgraça de família, para quem não é feio de doer, para quem não é carente, para quem não está numa rotina de casamento ou para quem é algum desses (ou todos esses) mas consegue separar as passagens dos livros da sua própria vida - pois se vocês forem como eu, vocês vão se lascar! Tô avisando. E então, talvez, seja melhor ler as minhas dicas num verão cheio de amigos e raios de Sol numa praia linda do Brasil, para que o aperto no coração fique só ali nas páginas, sem que elas reflitam a lama em que você se encontra.
Concluindo, se vocês sofrem, não leiam estes livros agora! Esperem a dor passar. Mas...se tiverem um tiquinho de coragem, como a doida da dona do blog, corram pra livraria e comprem, comprem, comprem!
1) A primeira dica é o consagrado livro "A hora da estrela" de Clarice Lispector. Este está quase sempre na lista dos vestibulares e, talvez, seja por isso que quase nenhum adolescente leia a obra. Afinal, é chato pra caramba ter que ler um livro pensando no "xizinho" de uma prova que trata um romance como uma fórmula matemática.
Este não é para quem é feio, para quem é carente ou para quem entende de cabelo, sapato, moda ou adjacências, por três motivos. Primeiro, porque se você é feio vai acabar se identificando com a personagem. Segundo porque se você é carente, vai se identificar com os delírios psicológicos do narrador. E terceiro, porque se você é um entendido de cabelo, sapato, moda e adjacências, vai querer matar a Macabéia e vai sair da história sem entender nécas alguma do que a autora quis dizer. Ou seja, o livro é pra quem consegue refletir em torno do próprio eu, da Clarice e de si próprio.
Dói. Dói. E dói. Mas contém uma escrita psicológica intimista do cacete. Coragem para lê-lo!
2) Outro da Clarice. Agora um livro de contos: "Laços de Família". Este é bem pesado para a mulherada. Quem vive num mundo chamado CASAMENTO tem que passar longe da prateleira que conter este título, por vários motivos: quase todas as personagens são femininas; elas vivem uma rotina de casa, filhos, marido, festinhas de família, passeios no parque; e TODAS, em algum momento do conto, têm o seu momento de epifânia, em que elas se dão conta de quem realmente são. E o foda disso é que: esse momento dura poucos minutos, talvez segundos, e elas voltam a não ser. Elas voltam à rotina de casa, filhos, marido, festinhas de família, passeios no parque. É... é um soco na boca do estômago de nós, mulheres.
Os homens deveriam ler para nos entender melhor e as moças solteiras, todas, deveriam ler para saber aonde vai parar a Branca de Neve pós-príncipe encantado.
3) Ah, esse foi uma surpresa! Nunca tinha lido Milton Hatoum, mas quando soube que "Dois Irmãos" estava na lista das melhores obras contemporâneas, corri para ler. E não me arrependi. Baita livro e baita autor.
A história central gira em torno do ódio entre dois irmãos gêmeos e é contada por um narrador que é filho de um dos dois com a empregada. A forma narrativa é uma das mais fantásticas que já li. O narrador avança e recua no tempo, mostrando a capacidade de escrita espetácular de Hatoum.
Um dos motivos que me fizeram ir devorando o livro foi a curiosidade para saber qual era o nome do narrador-personagem e de qual dos gêmeos ele era filho. O nome do narrador só é revelado uma vez, na página 180 do livro, lá no finzinho. E isso quase me fez engordar de ansiedade! Aliás, Milton Hatoum pode me matar, mas eu tenho que revelar aqui o nome do narrador. É Nael. Desculpem, precisei contar. Leiam já sabendo citar o nome do narrador se gostarem de algum trecho antes da página 180.
Agora...sobre de quem ele é filho, vocês terão que ler para saber. Ou deduzir. Opa! Já estou falando demais...
Um dos motivos que me fizeram ir devorando o livro foi a curiosidade para saber qual era o nome do narrador-personagem e de qual dos gêmeos ele era filho. O nome do narrador só é revelado uma vez, na página 180 do livro, lá no finzinho. E isso quase me fez engordar de ansiedade! Aliás, Milton Hatoum pode me matar, mas eu tenho que revelar aqui o nome do narrador. É Nael. Desculpem, precisei contar. Leiam já sabendo citar o nome do narrador se gostarem de algum trecho antes da página 180.
Agora...sobre de quem ele é filho, vocês terão que ler para saber. Ou deduzir. Opa! Já estou falando demais...
Leiam!
p.s.: Milton Hatoum está vivo, é brasileiro, ganhador de vários prêmios Jabuti (o mais importante da literatura nacional) e já foi traduzido pra trocentas línguas. Brasileiro precisa saber disso. ;)
Comentários
Beijos, Emília!
Agora não entendi, devo ou não devo ler???
rsrsrs
Bjs
beijos a voce, que tambem ecoa na alma
Meu pai escreve 6 livros e teve 3 publicados.
Admiro quem consegue realmente prender o leitor.
Tive um professor na pós que deu otimas dicas de como escrever um livro e acho que vou usar as tecnicas dele.. até pq ele tb recebeu um premio jabuti.
bjs
Só vou criticar uma única coisa! (ha... como se precisasse!)
Acho que a ignorância das pessoas precisa ser lembrada com letra maiúscula.
Confesso que eu não conhecia Milton Hatoum. Muito menos que ele era brasileiro. Muito menos que ele é vivo.
Mais uma lição aprendida aqui! ;)
Nao é preciso nem bater em minha porta. Essa ja esta sempre aberta a espera de sua chegada...
Eu estou lendo "Felicidade Clandestina"...
Bjs
beijos! ADORO voce