Intuição de Mulher
De longe avistei um tipo bem arrumado. Cabelo dividido prum dos lados, camisa por debaixo da calça, cinto da mesma cor do sapato lustrado e um jeito comportado de se mexer: cada movimento metodicamente calculado como se a figura estivesse sendo observada por mais gente do que somente por mim. Dois piscares de olhos e eu já cutuquei a Mari:
- Não dança com aquele rapaz! - era uma ordem de quem frequenta aquele salão desde mil novecentos e bolinhas.
Ela quis saber o motivo e, pontual, como só quem frequenta aquele salão desde mil novecentos e mais bolinhas pode ser, eu garanti a ela:
- Simples. Ele não sabe dançar.
E ela duvidou:
- Aé? E como você sabe que ele não sabe dançar?
Tratei de detalhar o tipo:
- Olha como ele se veste. É um poste vestido de homem. Tem tanto medo de amassar a camisa, que não sairá do lugar. Vai por mim, não dança com ele!
A Mari ficou embasbacada com a conclusão. E, como entre mulheres, mesmo amigas, ainda rolam aquelas disputas seja lá do que for, ela quis ir lá conferir mesmo se o sujeito sabia ou não sabia fazer brilhar mais ainda aqueles sapatos lustrados. E para a minha surpresa e a glória da Mari, o poste dava luz.
Dançou de abrir a roda no salão, conquistando espaços e sorrisos das meninas. E para o meu massacre ser maior, o diabo ainda conseguia a proeza de falar e dançar ao mesmo tempo, arrancando suspiros do mulheril. Menos de mim, claro, que sou dura na queda, mesmo levando tiros de metralhadora.
Quando findou a dança, a Mari veio toda contente esfregar na minha cara o "tá vendo como o rapaz sabe dançar" e mais um monte de "tá vendo tralálálá".
Com um fervor de quem tinha a percepção aguçada desafiada, não desisti:
- Tá! Tá bom! Agora desembucha logo e me diz o que vocês tanto conversavam!
Seguida de três suspiros, a Mari desembuchou:
- Ah! Ah! Ah! Ele estava me falando que dança para relaxar, que precisa de um descanso, que mexe com papéis o dia inteiro, que trabalha muito, que tem um escritório, e um sócio, e um estagiário, e um carro, e mais um monte de papéis. Ele até disse um nome...Hum...Ah, é...processos, ele mexe com pro-ces-sos.
(mais um suspiro).
- Ele é advogado!
Num súbito, não me contive:
- Ah, eu sabia! A minha percepção não falha. Meus pés até aguentariam os pisões que ele te dava, mas os meus miolos, haha, os meus miolos não aguentariam nem a primeira frase.
E fui para o outro lado do salão dançar com qualquer rapaz de camisa fora da calça.
Comentários
dá vontade de nunca parar de ler vc!!
adoro teu blog ;)
ta nas minhas recomendações.
beijão pra ti
www.daqueelejeito.blogspot.com
e eu que nunca arrumo meu cabelo,
saio com qualquer trapo que possa ser chamado de roupa,
raramente me arrumo bem,
e não sou nem um pouco certinho,
não sei dançar...
eu tento...
inútilmente...
rsrsrsrs
òtimo texto feh!!!!!
Que bacana seu texto! Realmente os engomadinhos geralmente não dançam nada e tem muito blá, blá, blá que nos enchem rapido, rápido...
Esse negócio de intuição é muito forte.
Uma vez li em uma reportagem na Veja que tem empresas que dão treinamento para homens desenvolverem esta habilidade? Vc acredita? Para os negócios, a intuição é algo que faz falta na ala masculina...
A minha é altamente aguçada...Sempre!
Bjs, parabéns!
Classe que também dispenso mesmo sendo "colegas" como iria chamá-los de chatos?
Brincadeira as parte... o cara então era pé de valsa.... mas não tinha pegada aprosto...
bjs
Eu me lembro de quando eu fazia aulas de dança de salão. Havia um tipinho que fazia a mulherada de todas as gerações suspirarem. E não porque fosse bonito, não, apesar de o ser, mas porque dançava muito! Parecia que tinha nascido praquilo... rs.
Sempre bom estar aqui.
Beijão, querida!
Tem dica de blog lá no jardim. Passa pra conferir.
http://ravibarros.blogspot.com
Texto maravilhoso , como sempre e assim como você.
Admiro muito você Fê !
beijinhos .
beijokas...
http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=3989847409396565876
www.daqueelejeito.blogspot.com