Moléstia

Gente, eu sou uma lazarenta. Comecei a namorar e abandonei as crônicas, as poesias, as narrativas e todas as tipologias textuais que finjo escrever, mesmo eu sendo marromenos em everything.

Mas antes, voltemos ao termo lazarenta.

Quando me veio a ideia do post, eu pensava já na primeira frase de retorno ao blog começando por "Gente, eu sou uma laza...". Lazarenta? Mas o quié que significa lazarenta? Calma, Fernanda, não vai sair se xingando de qualquer coisa assim também.

Aí, com preguiça de levantar da cadeira, dar dois passos, esticar a mão e pegar o dicionário, optei por confiar na Wikipédia e joguei a palavra lá.

Lazarento
vem do personagem bíblico Lázaro, que por ter contraído lepra foi considerado um pária - pessoa excluída da sociedade, casta social mais baixa da Índia (é, tive que pegar o dicionário).

O que aconteceu com Lázaro foi que, por ter contraído a tal moléstia, perdeu seu prestígio na sociedade. E o termo, lazarento, passou então a ser considerado um insulto. Nos dias de hoje, quando alguém chama outro alguém de lazarento, a expressão facial do primeiro é algo como um "éca", sacam?

Pois bem, eu não tenho lepra, mas tenho um namorado. Logo, sou uma lazarenta.

E como ele lê isso aqui, eu suspeito que deixarei de ser uma lazarenta logo logo.

Sem rodeios, o fato é que começo de namoro é a joça mais gostosa do mundo. Eu só penso nele, eu só falo nele, eu escuto música e lembro dele, ele é isso, ele é aquilo. E quando penso em escrever algo, lembro que tenho lepra. Ops, um namorado.

Todas aquelas histórias engraçadinhas e verdadeiras agora possuem um espectador-personagem, pois o meu namorado (ou lepra) me acompanha em tudo e na maioria das vezes participa de tudo também.

É como num domingo desses, quando a gente foi no cinema só pra comer pipoca com (muita) manteiga, porque não tinha nenhum filme bom o suficiente para nos fazer não prestar atenção só na pipoca e...

Sentados nos banquinhos, em frente ao cinema, ficamos por lá declarando nosso amor com beijos salgados, amanteigados e patrocinados pela Coca-Cola, que ele segurava pra mim. Opa, pra gente, enquanto eu, espertinha, dominava a pipoca.

Eu contava pra ele a respeito da minha mente insana que sempre fica tentando criar diálogos para as pessoas desconhecidas que habitam os lugares, quando eu vejo, ao lado direito, num outro banquinho de madeira como o nosso, um casal perfeito para eu colocar as minhas ideias em prática.

Fiquei observando um tempo os dois, procurando sinais de possíveis discursos para o diálogo, quando o rapaz abre um jornalzinho de bairro e coloca bem na frente de sua perna. A moça encosta seu rosto no ombro do moço, e a mão da rapariga some atrás do jornalzinho de bairro.

"Acabo de desistir de criar diálogos, amor. Tem uma cena ali pronta". Sussurro pro gato, que sem disfarçar nem o mínimo do que eu considero pouco, vira o rosto pra ver do quié que eu estava falando.

A gente se olha e ri. E continuamos observando o casal. Somos dois insanos agora.
Com nenhuma dúvida do que estava acontecendo, finjo achar o que já tinha certeza.

"Amor, acho que aquele moço está fingindo ler o jornal enquanto a moça fingi estar com a mão na perna dele".

Silêncio. Meu gato parece não ter ouvido o que eu tinha acabado de dizer. Ao perguntar se ele tinha me escutado, ele olha em volta e com o pensamento longe diz:

"Ouvi sim, linda, estou só aqui pensando onde é que foi que ele conseguiu esse jornal..."


p.s.:
Preciso ainda dizer que sou apaixonada pela minha moléstia?

Comentários

Anônimo disse…
*gargalhadas*
O final desse post foi tudo. O seu amor está melhorando o que já era bom. Muitas felicidades pra vcs, sempre!
Um grande beijo.
Lélia Campos disse…
Sabe, quando estou feliz costumo escrever menos. Por que será, né? Talvez porque ao invés de ficar refletindo e escrevendo posts, a gente experimente a vida mais plenamente.
Quanto a essa nova fase, mesmo que raros, que venham pots tão bons quanto esse. Fique tranquila, a gente entende a sua ausência aqui!!!
Te amo!!!!
Catarina Soares disse…
Você não sabe o quanto estava fazendo falta os seus posts aqui .
Mas tudo bem , entendo !
Morro de saudade de vc , e sempre morro de rir com seus textos.
Um beijo amigaa :*

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